sexta-feira, 13 de abril de 2012

Multimistura

As vantagens da boa alimentação – complementação alimentar
Antigamente, o solo era rico e por isso os alimentos eram mais completos. Naquele tempo não se usavam produtos químicos. A poluição industrial, o uso de adubos químicos, hormônios em animais e pesticidas colaboram para que tenhamos menos saúde e contaminam o meio ambiente, o produtor e o consumidor.
O uso de concentrados de minerais e vitaminas (farelos, pó de folhas, pó de sementes, pó de casca de ovo) em doses mínimas, mas constantemente acrescidos à nossa alimentação tradicional, fornece nutrientes que são indispensáveis para:
- promover o crescimento (dentro e fora do útero),
- aumentar a resistência às infecções,
- prevenir e curar a anemia nutricional,
- diminuir diarréias,
- diminuir doenças respiratórias e
- manter a saúde.
O Brasil é um país muito rico em alimentos. Cada região precisa valorizar essa riqueza para que todos possam comer melhor. Vejamos:
1. No Norte: jambu, jambo, castanha-do-pará, macaxeira, caruru, abóbora, manga, coentro, vinagreira, maniçoba, tucupi, pupunha, buriti, peixes, piracuí, tacacá, milho, dendê, gergelim etc.
2. No Nordeste: caju, jaca, coco, macaxeira, inhame, camarão, mariscos, peixes, abóbora, coentro, bredo, vinagreira, manga, quiabento, quiabo, cuxá, castanha, óleo e mesocarpo de babaçu, vatapá, caruru, milho etc.
3. No Centro-Oeste/Sudeste: Pequi, buriti, guariroba, jaca, abóbora, mandioca, serralha, caruru, beldroega, coentro, galinhada, maria-isabel, baião-de-dois, ora-pro-nóbis, milho, pamonha, angu, feijoada etc.
4. No Sul: abóbora, mandioca, peixes, camarão, serralha, beldroega, almeirão, escarola, rúcula, arroz-carreteiro, feijão tropeiro, milho, polenta, cevada, aveia, centeio, trigo, açúcar mascavo, linhaça.
Hoje estão sendo muito valorizados os alimentos funcionais (nutracêuticos). São alimentos que previnem, retardam e até curam doenças. São alimentos que promovem e mantém a saúde.
A mandioca é um exemplo. Sua folha é riquíssima em minerais e vitaminas e é quase toda desperdiçada. Tem mais ferro que a carne, mais vitamina A que o leite. E a composição e proporção entre seus nutrientes é tão perfeita que pequenas quantidades do seu pó acrescentadas todos os dias em nossa comida, pode, por exemplo, controlar a anemia, aumentar a imunidade e reduzir a gravidade das infecções como a dengue, malária, pneumonia, diarréia, aids, tuberculose, hanseníase, gripe. E também a cegueira noturna e a coceira dos olhos por deficiência de vitamina A.
A raiz, quando moída e prensada, libera o tucupi (manipuera) que serve como inseticida, mata saúva, dá um molho fantástico com ou sem pimenta, pode ser usado no tacacá, pato, carne etc. Vai bem na sopa e no arroz. Com jambu fica ainda melhor e mais completa em nutrientes. Logo teremos no comércio o tucupi em pó. Dele se extraem nutrientes muito caros e raros.
Também a fibra que sobra da extração do amido é mais cara que ele, devido a sua importância para prevenir câncer de intestino, reduzir tóxicos, normalizar colesterol etc., mas não está disponível comercialmente, ainda.
Lembre-se: a mandioca é orgânica, preserva o meio ambiente, o produtor e o consumidor. Nasce em todo o país. É brasileira.
O camapu, fisalis ou tomate de capote é um mato cujas folhas amargas protegem o fígado. Seus frutos ricos em vitaminas A, C e E, se usados desde criança, previnem a catarata e aumenta a resposta imunológica.
A chave de uma boa alimentação está ao alcance de todos.
Existem vários alimentos nutritivos, mas pouco valorizados. Entre eles, 4 pós se destacam pela facilidade de uso e disponibilidade em todas regiões do país:

FARELOS DE ARROZ E/OU DE TRIGO
O farelo é obtido quando os grãos integrais do arroz e do trigo são polidos e transformados em arroz branco e farinha branca.
Assim o arroz e o trigo polidos ficam mais pobres e os "bichos" atacam menos. Em compensação, esses alimentos, quando usados pelo homem, desequilibram o seu organismo, porque perdem em cada 100g:

Fonte: IBGE


Com o polimento se perde o "olho", chamado gérmen e a cutícula que reveste o grão.
Os farelos de arroz e de trigo são concentrados de minerais (Ferro, Cálcio, Zinco, Magnésio) e de vitaminas (B1, B2, Niacina etc.). Possui também proteínas, hidratos de carbono, gorduras e fibras. Transformam qualquer "comida pobre" em "comida rica".
Os farelos são chamados de subprodutos e, por isso, vendidos para ração animal. Muita gente acha que é comida de porco. Mas nós comemos a mandioca, o milho, a abóbora que o porco come, e também a carne do porco.
Não é só questão de preconceito? Repare que a porca e a vaca sempre têm leite suficiente para os filhotes. Eles dificilmente nascem desnutridos ou se tornam depois, porque a mãe está bem alimentada.
O arroz e o trigo nunca foram alimentos para animais ao longo da história. Portanto, é o porco que come alimentos do homem e não o contrário.
Em países ricos como Japão, Estados Unidos e os da Europa, o farelo é muito consumido pela população, que conhece suas qualidades e é vendido em qualquer supermercado, além de enriquecer alimentos como biscoitos, balas, tira-gostos e cereais para o café da manhã.
Não existe uma comida boa para ricos e outra para pobres.
O meu corpo não sabe se eu sou rico ou pobre nem quanto eu ganho. Portanto, ou o alimento é bom para qualquer pessoa ou não serve para ninguém.

Modo de Preparo dos farelos
O uso deve ser diário, como o sal: pouco e sempre.
Usar 1 a 2 colheres de sopa (rasas) para cada pessoa, por dia.

Farelo de arroz
O farelo de arroz é comprado em usina de arroz e deve ser imediatamente preparado e torrado. Deve ser sempre novo, sem cheiro de ranço ou de mofo.
O farelo de arroz deve ser peneirado aos poucos, em peneira fina, para separar a casca e o arroz quebradinho. Pode-se passar mais uma vez na peneira, se tiver ainda muita palha.
Torrar em panela grande, com colher de pau, mexendo sempre, por no mínimo, 25 minutos em fogo baixo (depois que a panela e o farelo estiverem quentes).
Não colocar mais de um terço (1/3) da capacidade da panela, para se conseguir um farelo torrado homogeneamente.
Esfriar e guardar em vasilhas fechadas ou no freezer.
O Óleo de farelo de arroz pode ser frito várias vezes e não se decompõe. Tem álcool triterperno, que acelera a formação e a fixação da memória e outras propriedades mais. Os farelos neutralizam o componente nutricional da TPM, cólica menstrual, do alcoolismo e contribuem para uma qualidade de vida melhor. Normaliza o crescimento dentro e fora do útero, reduz a anemia, regulariza a função intestinal, melhora a dor nas pernas, o calcanhar rachado, a cicatrização, a assadura etc.

Farelo de trigo (contém glúten)
Passar em peneira não muito fina. Convém torrar para ser usado em preparações que não vão ao forno ou fogo.
Para crianças pequenas, tem que ser passado em peneira fina.
Misturar em sopas, mingaus, leite, arroz, feijão, bolo, cuscuz, beiju, pão, molho de macarrão...
Dividir em todas as refeições usadas durante o dia.
Dentro do princípio da MULTIMISTURA, se você tiver os 2 farelos, pode misturá-los e usar na mesma quantidade acima mencionada.
Hoje, conhecemos os efeitos maléficos dos metais pesados como o mercúrio, chumbo, cádmio, alumínio, níquel, porém, nutrientes contidos nos farelos e nos pós de folhas verde-escuras comestíveis podem neutralizar sua ação total ou parcialmente, dependendo da sua concentração, assim como outros alimentos, como as frutas, verduras, cereais integrais, que também têm componentes funcionais ou inteligentes.

PÓ DE FOLHAS VERDE-ESCURAS
São ricas fontes de vitamina A, vitaminas do complexo B, vitamina C etc., além de ferro e cálcio.
O Brasil, por ser um país imenso, tem plantas próprias em cada região. Se você conversar com as pessoas mais velhas da comunidade, vai aprender muito do que era usado antigamente e assim poderá enriquecer, ainda mais, o que come no dia-a-dia. Exemplos: abóbora, alfavaca, batata-doce, beldroega, bredo, chaguinha, cansação, capeba, cariru, caruru, coentro, dente-de-leão, folhas de chuchu, hortelã, jambu, língua-de-vaca, manjericão, marianica, ora-pro-nóbis, picão-branco, pimentão, quiabento, quioiô, serralha, taioba, uva, vinagreira etc.
Para facilitar o uso, principalmente por crianças pequenas, pode-se transformar as folhas em pó. A folha da mandioca, além de ser a mais rica, é a mais fácil de ser preparada.
Vamos comparar a quantidade de vitamina A e ferro das folhas verde-escuras ( folha de mandioca, folha de batata-doce), com a das folhas verde-claras (alface e repolho).
Essas folhas escuras, chamadas de mato, têm a vantagem de crescer naturalmente, sem precisar de muitos cuidados no cultivo, sendo mais nutritivas que as folhas claras como alface e repolho.

Que diferença, não é mesmo?
A folha da mandioca é uma rica fonte de minerais e vitaminas.
Acrescente (1) pitada do pó de folhas no prato, já pronto, em todas as refeições.

Preparo:
As folhas, depois de lavadas, ficam em 1 litro de água + 1 colher (sopa) de água sanitária por 20 minutos.
Secar as folhas em lugar ventilado, à sombra, ao sol ou em forno entreaberto até se tornarem crocantes. Amassar bem e passar no pilão, no liquidificador, no moedor de cereal ou peneira fina.
Com esse processo, elimina-se o ácido cianídrico.

PÓ DE SEMENTES
Sementes são alimentos de grande valor que a natureza colocou à nossa disposição. Concentram muitos sais minerais, vitaminas, óleos essenciais e proteínas muito importantes para o funcionamento do organismo.
Exemplo: sementes de abóbora, melancia, melão, girassol, linhaça, gergelim, castanha de caju, castanha-do-pará, babaçu, amendoim, pecã, jaca, sapucaia etc.
Use no preparo de paçocas, farofa, granola, mingau, bolo, cuscuz.

PÓ DE CASCA DE OVO
Os nossos bisavós já usavam o pó da casca do ovo porque é uma grande fonte de cálcio, importantíssimo para:
- o crescimento;
- a gravidez;
- a amamentação;
- a recuperação da saúde;
- a conservação dos dentes e
- a prevenção da osteoporose (não esquecer de tomar sol).
Preparo:
Lavar bem as cascas dos ovos e depois amassá-las. Fervê-las por 20 minutos e lavar bem para retirar a espuma branca. Deixar de molho por 30 minutos em 1 litro de água para uma colher de (sopa) de hipoclorito ou água sanitária. Secar ao sol ou ao forno. Liquidificar ou pilar. É bom passar em pano fino para ficar como talco.
Nota: usar máscara para impedir a contaminação e a aspiração do pó.
Colocar 1 colher (chá), por pessoa, de suco de limão. Esperar ferver ( como sonrisal) e tomar. Antes de usar, pode deixar também em vinagre, por algumas horas, para ser melhor aproveitado pelo organismo.
Usar em sopas, mingaus, farofa, paçoca, bolo.

MULTIMISTURA
É um princípio básico de nutrição:
A Qualidade é dada pela Variedade e não apenas pela carne, ovo, peixe, frango.
Não há alimentos fortes ou fracos, mas complementares.
Exemplo: A combinação de arroz, feijão e carne fica mais completa com salada de alface, salsa, coentro, hortelã, cebola, couve, grãos de gergelim temperados com sal iodado, limão e óleo.
Pode-se enriquecer a alimentação do dia-a-dia com uma farinha composta de:
70% de farelo (arroz e ou trigo) tostado,
15% de pó de folhas (mandioca, batata-doce, etc.),
15% de pó de sementes (gergelim, abóbora, linhaça, girassol).
Se tiver pó de cascas de ovo, a mistura fica assim:
70% de farelo tostado,
10% de pó de folhas verde-escuras,
10% de pó de sementes,
10% de pó de casca de ovo.
Usar uma colher de sopa por pessoa, por dia, dividida nas três refeições. Serve para todas as idades. É um alimento, não um medicamento. É a multimistura básica. Contém um concentrado de minerais e vitaminas. Funciona como o sal: um pouco todos os dias. Repõe nutrientes fundamentais como o zinco, magnésio, ferro, vitamina A, vitaminas do complexo B e outras. Também reduz a absorção de metais nocivos como o mercúrio, chumbo, alumínio. Milagre? Não. Estamos repondo o que a natureza fez e o que foi retirado pela industrialização. "Bicho não come o que não presta". Ou seja, um arroz branquinho, mas fraco, não é atacado por insetos e roedores, como é atacado o arroz integral, e se conserva por muito mais tempo. O comerciante vende mais e ganha mais.
PS: O farelo de trigo contém glúten.

Como muitas pessoas perguntam onde encontrar a Multimistura já pronta, informamos que pode ser procurada:
- na Pastoral da Criança de sua cidade;
- em Mercados Públicos (no de Porto Alegre tem em várias bancas);
- em lojas ou entrepostos de produtos naturais ou orgânicos;
- em mercados;
- em ONGs que trabalham com Alimentação Alternativa;
- em associações comunitárias, tais como, por exemplo, no DF, a Cooperunião em São Sebastião e no Centro Comunitário da Criança da Ceilândia.

É importante que estejam discriminados os ingredientes e que contenha:
- 70% de farelos;
- 15% de pó de sementes; e
- 15% de pó de folhas verde-escuras, sendo a principal a da mandioca.

Fonte: Internet

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

IDENTIFICAÇÃO BOTÂNICA E PROSPECÇÃO FITOQUÍMICA DA PLANTA Siparuna aff. cujabana (MONIMIACEAE)


IDENTIFICAÇÃO BOTÂNICA E PROSPECÇÃO FITOQUÍMICA DA PLANTA Siparuna aff. cujabana (MONIMIACEAE)


SCHETINGER, W. L.


Introdução:

O estudo das plantas medicinais está ligado à necessidade do ser humano de buscar alívio para dores e doenças. Desde os primórdios, buscou-se nas plantas, o recurso para ser usado na terapêutica.
Na América, diversos povos que aqui habitavam, sempre tiveram contato íntimo com o seu habitat natural permitindo o acúmulo de experiências e conhecimentos que eram repassados de geração em geração.
No Brasil, nos primeiros anos da colonização, as boticas representavam o sistema médico-farmacêutico da época. Este seria uma mescla de novos conhecimentos proveniente da ciência oficial européia com avanços ligados à química e terapias associadas ao conhecimento tradicional, caracterizado principalmente pelas plantas medicinais usadas pelos pajés (LORENZI, 2002).
A população indígena na época do descobrimento do Brasil era estimada entre 2 a 8 milhões de indivíduos e atualmente calcula-se que esteja em torno de 300 mil índios. (BRASIL 2006). Povos indígenas como Xavantes, Kraho, Guarani e muitos outros desenvolveram sistemas terapêutico-religiosos baseados em rituais com a utilização de plantas medicinais.
A “Medicina Herbal” foi criada, originada da experimentação da riqueza vegetal e cultural dos povos habitantes daqui e um modelo diferente de países como a China que desenvolveu a Medicina Tradicional Chinesa ou a Índia que criou a Medicina Ayurvédica.
Devido à biodiversidade do cerrado, há um enorme potencial terapêutico, que vem sendo estudado e desvendado (IORIS, 1999). Estudos estão sendo realizados no sentido de encontrar moléculas vegetais, que possam ser identificadas e transformadas em novos fármacos, para tratamento de doenças inflamatórias, infecto-contagiosas e degenerativas.
Neste contexto, as pesquisas com plantas tornam-se uma necessidade urgente. A ocupação do Cerrado ocorrida nas últimas 3 décadas, transformou o perfil da região e acelerou o processo de perda da biodiversidade. As cidades crescem desordenadamente e no campo o agro-negócio transformou as paisagens em cultivos químicos e mecanizados, favorecendo a perda do patrimônio genético.
O bioma cerrado compreende um amplo ecossistema com características terrestres regionais e fitofisionomias próprias. Apresenta uma ampla extensão e heterogeneidade abrigando uma enorme biodiversidade em torno de 5% do planeta, composta por pelo menos 6 mil espécies vegetais lenhosas e mais de 500 espécies de gramíneas, muitas destas espécies consideradas endêmicas, ou seja, espécies que só crescem na região dos cerrados (BRASIL 2003).
O potencial terapêutico medicinal do Cerrado é imenso e distribui-se em uma região cheia de contrastes. O estresse no qual as plantas são submetidas pelo excesso de sol e calor, pela ação do fogo, vento, altitude, solo deficiente de minerais e muitas vezes pedregosos, além do período de chuvas abundantes favorece o desenvolvimento de mecanismos de defesa. Estas substâncias são conhecidas como metabólitos secundários, que possuem características químicas que permitem o uso destas plantas como medicamento.
A grande variedade de metabólitos como alcalóides, taninos, flavonóides e outros, fornecem um arsenal terapêutico infinito. (IORIS, 1999).
Situada neste bioma encontra-se a cidade de Pirenópolis, que está localizada na região da serra dos Pireneus com altitude de 1.385 metros, no divisor continental de águas, das bacias dos rios Tocantins e Paraná, e possuindo duas nascentes importantes: a do Rio das Almas que corre para o norte e do Rio Corumbá que corre para o sul.
De acordo com Siqueira (2004), o Cerrado da serra dos Pireneus apresenta uma infinidade de plantas com propriedades diversas. Em sua lista preliminar destaca 76 plantas com características medicinais, frutíferas, ornamentais, tintorias e madereiras. Entre estas cita 2 espécies endêmicas da serra dos Pireneus, Trembleya neopyrenaica (Branca paixão) e Cissus albicans (Uvinha brava), ambas ameaçadas de extinção devido à ocorrência de pequenas populações. Além destas são citadas 4 espécies endêmicas do Cerrado que só ocorrem no estado de Goiás.
Como parte desta flora exuberante encontra-se a Siparuna sp. popularmente conhecida como negramina.
Trata-se de uma planta pertencente à família Monimiaceae. Amplamente usada pela medicina popular e indígena (MORAES, 2007), conhecida por suas propriedades medicinais e energéticas.
A negramina possui forte aroma semelhante ao limão, arbusto com até 3 metros de altura, folhas simples, membranácea, serrilhada nas bordas, porte arbustivo e com uma característica de predominância nos terrenos alagados ocorrendo nas veredas, próxima aos buritizais (LORENZI, 2002).
Fischer et al. (1997) e Taubert (1896) descrevem a espécie Mollinedia pyrenea a partir da coleta de Ule de número 31182, feita na cabeceira do rio das Pedras, na Serra dos Pireneus, em Goiás. A variedade grandiflora, descrita em 1898 por Perkins, é tratada como sinônimo da variedade pyrenea Perkins resultante de uma nova combinação de Mollinedia pyrenea Taub. Descrita anteriormente por Taubert (1896).
Por ser uma planta bastante utilizada pela população da região, torna-se relevante o estudo para avaliação de princípios ativos existentes na sua composição, favorecendo a busca de resultados científicos que justifique a sua utilização popular e como medicamento fitoterápico.
Portanto, o presente trabalho tem como objetivos realizar a identificação botânica para verificação da correta espécie de Siparuna sp encontrada na Serra dos Pireneus e realizar a elucidação do perfil químico qualitativo, a fim de identificar os principais metabólitos secundários, possivelmente responsáveis pelo uso terapêutico da espécie.


Materiais e Métodos

A metodologia caracterizou-se por possuir dois aspectos: descritivo, apresentando a identificação botânica da espécie estudada para confirmar a variedade existente na região e qualitativo, baseado na identificação dos componentes da amostra, por meio da prospecção fitoquímica, seguindo a metodologia proposta por Costa (1982).
As etapas realizadas foram:
1. Coleta do material vegetal para montagem da exsicata visando identificação e posterior deposito no Herbário da UNB (HUNB).
2. Coleta das folhas para constituição da amostra.
3. Identificação botânica das exsicatas depositadas por comparação com as amostras do Herbário da UNB.
4. Preparação do material vegetal para estudo: secagem e moagem das folhas.
5. Prospecção fitoquímica e identificação de compostos ativos presentes na amostra segundo Costa (1982).



Resultados e discussão

No aspecto referente à identificação botânica, a amostra estudada neste trabalho, de acordo com a exsicata enviada ao HUNB, não se trata da Siparuna guianensis, em função do formato da folha e pela pilosodade. Assim a identificação feita por botânicos constatou como sendo Siparuna aff. cujabana (Mart.) DC.
A espécie Siparuna cujabana apresenta, de acordo com Jardim Botânico de Missouri, o seguinte taxon: divisão: Magnoliophyta, classe: Magnoliopsida, subclasse: Magnoliidae, ordem: Laurales Lindl., familia: Monimiaceae Juss. genero: Siparuna Aubl. espécie: Siparuna cujabana (Mart. ex Tul.) A. DC.
O Herbário do Museu Parisiensi, relata a espécie Siparuna tomentosa (Ruiz & Pavon) Perk., determinada por Renner, S. 1997. Outras determinações: Monimiaceae: Siparuna cujabana (Tulasne) A. DC. Det. : Hill, SR, 1973
BRASIL , Goiás, Corumbá de Goiás NW 20 km de Corumbá de Goiás, próximo ao Pico dos Pirineus., em denso matagal de galeria, a folhagem com cheiro limão, frutas vermelhas. O mesmo herbário também relata a ocorrência da Siparuna cujabana (Tulasne) A.DC. em Meia Ponte Goiás (antigo nome de Pirenópolis). Rio Vaga Fogo (Goyaz) Vaga Fogo perto do Rio Meia Ponte em 1894 Coleções Hometown: NY Monimiaceae. Estas informações comprovam a existência da Siparuna cujabana na Serra dos Pireneus, confirmando os dados levantados nesta pesquisa.
No que diz respeito à análise do perfil químico das folhas de Siparuna aff. Cujabana identificou-se a presença de metabólitos secundários de acordo com o quadro 1.






Quadro 1. Resultados da prospecção fitoquímica.

Metabólito Secundário Resultado
Alcalóides Positivo
Flavonóides Positivo
Antraquinonas Negativo
Cumarinas Positivo
Saponinas Negativo
Triterpenos e esteróides Negativo
Taninos Negativo
Resinas Negativo

Os compostos encontrados na amostra analisada foram os alcalóides, os flavonóides e as cumarinas. Segundo Simões (2000), os alcalóides são definidos como substâncias cíclicas nitrogenadas com amplo desempenho farmacológico, dentre estes, alcalóides quinolínicos são utilizados para o tratamento de malária.
Já os flavonóides são polifenóis com importantes ações farmacológicas descritas como: anticarcinogênico, antiinflamatório, antialérgico, antiviral, antiulcerogênico e outros. O último grupo encontrado, as cumarinas possuem atividades hepatoprotetoras, hiploglicemiantes, antifúngicas, antiinflamatórias e outras.
De acordo com Conceição (1980), na citação “mesmo na febre amarela tem sido usada com vantagem”, sugere que a planta teria indicações para tratamento de diversas moléstias, inclusive a febre amarela. A ocorrência do surto de febre amarela na cidade de Pirenópolis em janeiro de 2008, constituiu um momento oportuno para inicio dos estudos sobre esta planta.
De acordo com Lorenzi (2002); Conceição (1980); Campos (1991) e Fisher (1997), as propriedades medicinais relatadas para a negramina estão descritas no quadro 1.


Quadro 2. Principais indicações encontradas na literatura.

Espécie Pesquisada Propriedades Medicinais Indicações Terapêuticas
Siparuna sp. Digestiva, febrífugo
carminativo, cicatrizante,
tônica, estimulante
antiinflamatória
anti-reumática, hepática,
energéticas, hipotensivo,
abortivo, aromático, diurético, vulnerário. Diabetes, cólicas, engurgitamento do fígado, obesidade, edema, epidemias, febre amarela,
problemas de coluna, reumatismo, dores reumáticas, nevralgias, artrite
dor de cabeça, espasmo muscular, gripes, auxiliar do parto, epidemias.


Sendo assim, a presença de alcalóides, flavonóides e cumarinas sugere que as atividades farmacológicas descritas na literatura (quadro 2) e indicadas na medicina popular sejam de responsabilidade de tais compostos encontrados na prospecção fitoquímica.
Comparando-se S. aff. cujabana a espécie Siparuna apiosyce pesquisada por Valverde-Soares et al. (1996) estas assemelham-se pela presença de alcalóides do tipo benzilisoquinolínico, aporfínico N-metil-laurotetanina e oxoaporfínico, flavonóides derivado do kaempferol, ácidos graxos, triterpeno, esteróides estigmasterol e sitosterol.
As amostras pesquisadas por Valverde-Soares et al (1996), foram extraídas de sementes, frutos, casca do tronco, madeira e folhas.
Contudo, quanto à presença de triterpenos e esteróides, na amostra de S. aff. cujabana, não foi possível a comprovação deste resultado, por diferir das especificações determinadas para o procedimento de análise. Quanto à pesquisa de cumarinas, a visualização da cor amarela brilhante, em presença de luz UV, tornou-se evidente, apesar da subjetividade, em confirmar esta coloração.
Esta variação de resultados, quando comparada com a literatura existente, pode ser explicada através de duas hipóteses. A primeira caracteriza-se por possuir partes da planta diferentes, pois Valverde-Soares et al. (1996), pesquisaram a planta inteira e as amostras de S. aff. cujabana foram constituídos somente de folhas, as quais foram coletadas em três momentos, no período de julho a dezembro de 2008. Compondo portanto, uma amostra representativa.
A segunda hipótese da diferença de resultados esta ligada a variedade do gênero pesquisado. Pois, os autores acima pesquisaram amostras de Siparuna apiosyce e neste trabalho a espécie pesquisada foi identificada como S. aff. cujabana.




Considerações finais

De acordo com o estudo realizado observou-se que o gênero Siparuna apresenta um potencial terapêutico e medicamentoso que merece ser pesquisado. A realização da prospecção fitoquimica constituiu um mecanismo importante na definição do perfil químico da espécie Siparuna aff. cujabana bem como na diferenciação da espécie S. apyosice, pertencente ao mesmo gênero.
A presença de flavonóides, alcalóides e cumarinas permite nortear o desenvolvimento de pesquisas futuras no âmbito da farmacologia, a fim de investigar as indicações terapêuticas sugeridas pela medicina popular, bem como encontrar outras ações farmacológicas.
A presença de uma grande variedades de composto fitoquímicos associados em diferentes concentrações, e a diversidade de indicações medicinais encontradas na bibliografia e discutidas neste estudo, corroboram assim, a necessidade de mais pesquisas direcionadas à elucidação das substâncias e moléculas responsáveis pelo potencial farmacológico desta espécie.
Assim, a identificação correta da espécie constitui uma etapa de extrema importância para a pesquisa, bem como para o estabelecimento de parâmetros de controle de qualidade caso a espécie S. aff. cujabana seja explorada na produção de medicamentos fitoterápicos.


Referências bibliografia:

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Campos, José Maria; Caribe, José; Plantas que ajudam o homem. Editora Cultrix/Pensamento, São Paulo, 1991.

Conceição, Moacir. As plantas medicinais no ano 2000: Brasília: Editora Tao, 1980.

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Fischer, Dominique Corinne Hermine; Kato, Edna Tomiko Myiake; Oliveira, Fernando de; Caracterizaçäo farmacognóstica da droga e do extrato fluido de limoeiro-bravo-Siparuna apiosyce (martius) A. DC. Disponível em http://bases.bireme.br/cgi- Acesso 27/03/2008.

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Ioris, Edviges; Plantas medicinais do cerrado, perspectivas comunitárias para a saúde, meio ambiente e o meio sustentável. Fundação integrada municipal de ensino superior, Mineiros Go, 1999.

Lorenzi, H; Matos, Francisco J. A.. Plantas medicinais no Brasil nativas e exóticas: Nova Odessa SP: Instituto Plantarum de Estudos da Flora Ltda, 2002.

Moraes, Wesley Aragão de. As bases epistemológicas da medicina ampliada pela antroposofia: São Paulo: 2ª Ed. ABMA, Associação Brasileira de Medicina Antroposofica, 2007.

Oliveira, Fernando de. Akisue, Gokithi. Fundamentos de farmacobotânica: São Paulo: 2ª Ed. Editora Atheneu, 2005.

Simões, Claudia M. O.; Guerra, Miguel Pedro. [et al.]. Farmacognosia: da planta ao medicamento. 5ª Edição. Porto Alegre: Florianópolis: Editora da UFRG/UFSC, 2004.

Souza, Cynthia Domingues de; Felfili, Jeanine Maria. Uso de plantas medicinais na região de Alto Paraíso de Goiás, GO, Brasil: 2006, Versão eletrônica do artigo disponível em www.scielo.br/abb, acesso dia 18/10/2007.

Silva, Suelma Ribeiro. Plantas medicinais do Brasil: aspectos gerais sobre legislação e Comércio. http://www.semarh.df.gov.br/ Acesso 01/08/2007.

Siqueira, Josafá C.; Pirenópolis identidade cultural e biodiversidade: Rio de Janeiro: Editora Loyola, 2004.